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Millenium Mambo (Hou Hsiao Hsien, 2001)

Sendo assim, é possível pensar novos filmes conforme aparatos teóricos já estabelecidos? A resposta é sim, na medida em que eles, filmes e aparatos teóricos, não permaneçam os mesmos. A taxonomia das imagens de Deleuze não é a mesma depois de Hou, assim como os filmes deste também se tornam outros diante de tal encontro. A imagem-tempo se diferencia de si diante da duração que filmes como Millennium Mambo instalam, assim como o lugar que o filósofo reserva para o afeto em sua teoria das imagens. Pensar o cinema contemporâneo com Deleuze, em certa medida, é mover o cinema contemporâneo contra Deleuze, desorganizar e reorganizar seus conceitos.


A batida eletrônica surge antes da imagem. As luzes fosforescentes estão aos pares. É um corredor e é sobre o tempo. A narração em off está dez anos no futuro. O filme mostra mais do que fala. O fluxo do cinema de Hou Hsiao-Hsien. A teoria do cinema é. É uma forma de estar no meio.

Horário do filme: 19:00 - ver Programação

UMA BOATE É UMA BOATE OU MILLENIUM MAMBO

Por Lennon Macedo

A batida eletrônica surge antes da imagem, as luzes fosforescentes estão aos pares. É um corredor e é sobre o tempo. A narração em off está dez anos no futuro, mas será que isso importa? O filme mostra mais do que fala, e quando fala, nada revela. É como se fosse preciso mergulhar no tempo, se deixar atravessar por uma duração singela e acompanhar as personagens e os espaços. É uma forma de estar no meio.


Não estamos no território da contemplação, da reflexão. Isso é outra onda. O fluxo do cinema de Hou Hsiao-Hsien não se limita ao narrativo do cinema, tampouco o explode. É a implosão pelo mínimo, pelos movimentos que afetam. A personagem é corpo, tal como o espectador, e o seu engajamento com a espera e com as situações cotidianas não escondem nenhuma moral ou crítica social. O que não significa que, num dado agenciamento, tal cinema não possa produzir conceitos.


O trabalho teórico é esse: fazer o filme suscitar conceitos. Reconhecer nas imagens o que há de pensamento. Produzir, junto dos filmes, uma ideia sobre o mundo. Talvez seja essa a maior contribuição de Gilles Deleuze para o campo do pensamento sobre o cinema, a noção de que, assim como fazer filmes, a teoria do cinema é uma prática. A teoria do cinema não serve para desenterrar o que um filme esconde. A teoria do cinema não é um espelho dos filmes. A teoria do cinema não representa o que se apresenta nas imagens.

A teoria do cinema, sim, é uma atividade criativa, criadora. Isso não faz dela uma prática arbitrária em relação aos filmes, mas, tendo o cinema como um intercessor, como é possível pensar junto com os filmes? O quê certas imagens nos permitem ver e dizer e agir hoje? Que modos de existência? Quais mundos possíveis? O que as práticas de fazer filmes ensinam às práticas de produção de conceitos?

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