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Ensaios sobre os filmes

"Millenium Mambo" radicaliza a dispersão narrativa e representativa, satura os ambientes de pedaços visuais, desconecta elementos em cena e parece arremessar os personagens em derivas que driblam reducionismos psicológicos ou dramáticos. O resultado é uma cartografia das errâncias afetivas num novo tempo onde se dissolveram as grandes narrativas, borraram-se as fronteiras entre as categorias das relações e se desmantelaram as antigas engrenagens da ação individual e coletiva. Nesse líquido caleidoscópico de sensações em que estamos lançados, no começo do século 21, e de que as teorias do sujeito simplesmente não dão conta, ainda haveria condições para fazer, para sentir, para amar?

Horário do filme: 19:00 - ver programação

QUANDO A DISPERSÃO É A ESTÉTICA

Por Kinodeleuze

Para Lennon Macedo, convidado de Porto Alegre para o primeiro debate, o filme de Hou Hsiao-Hsien é exemplar para procedimentos de estilo relacionados à imagem-afeto. Longe da exteriorização de emoções ou de um sentimentalismo humanista baseado na empatia, para Deleuze os afetos são impessoais e precedem a própria formação dos personagens e dramas, na medida em que o conjunto de relações é antes condicionado por um feixe de afetos do que por vontades e desejos individualizados. Está em jogo a ética de afetos de Spinoza, onde há inclusive afetos de coisas, efeitos incorpóreos de qualidades puras e atos-potências. No filme que abre a mostra, o diretor do novo cinema taiwanês completa uma guinada estética nesse longa de 2001, deixando-se atravessar pelos fluxos e descentramentos da globalização tardia, relegando a segundo plano preocupações com a identidade do ser taiwanês e com encadeamentos de fatos históricos que definem as coordenadas dos conflitos pessoais.

 Millenium Mambo (Hou Hsiao Hsien, 2001)

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